Não se pode falar de sagrado sem falar do profano. É assim um binómio sagrado/profano que ao se, interligarem e ao se oporem, dão sentido às pessoas e atos, de acordo com o seu contexto cultural.
É considerado Profano tudo o que transgride as regras sagradas, o contrário do respeito devido às coisas divinas, neste sentido ser contrário ao profano é ser sagrado ou sacro, ou seja, é respeitar e cumprir os ritos ou os cultos religiosos. Na Na Bíblia podemos ler no livro do profeta Ezequiel, “Deverão ensinar o meu povo a distinguir entre sagrado e profano, e farão que ele conheça a diferença entre puro e impuro”. (Ezequiel 44:23). Torna-se assim o sagrado uma filosofia e o profano religioso.
Para Mircea Eliade o homem faz-se a si próprio, atribuindo ao sagrado um impedimento que não permite a sua evolução, considera ainda que ‘’ O sagrado é o obstáculo por excelência à sua liberdade. O homem só se tornará ele próprio quando estiver radicalmente desmistificado.’’ Afirma ainda que ‘’O homem profano, queira ou não, conserva ainda os vestígios do comportamento do homem religioso, mas esvaziado dos significados religiosos. Faça o que fizer é um herdeiro’’.
O homem moderno constrói a cada momento da sua vida, uma estrutura mágico-religiosa diz Mircea Elíade. Chega-se mais perto da vivência dos deuses ao imitar o comportamento divino ou sagrado. De forma subliminar para que não seja conotado como homem religioso, herdeiro dessas tradições, festeja o nascimento do novo membro da família, um momento importante de agregação, do dom divino de dar a vida, ou “... os festejos que acompanham o Ano Novo ou a instalação numa casa nova apresentam, ainda que de forma laicizada, a estrutura de um ritual de renovação’’, afirma ainda que não há um homem puramente a religioso, pois considera que “Estão às vezes entulhados por todo um amontoado mágico-religioso, mas degradado até a caricatura e, por esta razão, dificilmente reconhecível” Com exemplo desta forma de pensar temos o movimento marxistas com os ideais do redentor, do justo, o inocente, o escolhido, com os ideais de liberdade encontramos também nos movimentos laicos comportamentos religiosos camuflados como por exemplo o nudismo que nos remete para os primórdios bíblicos da espécie humana em que não existia o pecado ou na psicanálise em que o paciente é levado a contactar com os seus traumas enfrentando-os através da ida ao passado o que se pode assemelhar à bíblica descida ao inferno combatendo os monstros que se afiguram como traumas qual S.Jorge enfrentando o dragão, saindo desta batalha de forma vitoriosa, para morrer e ressuscitar numa nova vida de valores responsáveis.
Considera-se como estranheza o que é imprevisível e o que provoca vulnerabilidades, o diferente, que possibilita a definição daquilo que é familiar, do mesmo.
É só na medida em que determinadas figuras nos perturbam e existem em relação connosco que elas se podem tornar estranhas. O estranho não existe numa condição de completa exterioridade. Tem que estar no interior de uma ordem para ser considerado estranho, na medida em que é por referência a uma ordem dominante que se estipula a diferença. Os estranhos são aqueles que existem, ou seja, a indiferença não produz estranheza. Pensemos então nos símbolos religiosos entendidos a partir de analogias, estes são conceitos entendidos como a assinatura de textos religiosos com significado. Estão intimamente ligados à vida social e mudam com ela, frequentemente encontram-se apoiados no poder político dominante. Os símbolos religiosos influenciam as capacidades, habilidades, hábitos, compromissos, produzem em suma dois tipos de atitudes, disposições e motivações e ‘’as motivações são tornadas significativas no que se refere aos fins para os quais são concebidas, enquanto as disposições são tornadas significativas no que diz respeito às condições a partir das quais se concebe que elas surjam’’(GERTZ, 1989).
Para Gertz, não são os símbolos que implementam disposições verdadeiramente cristãs mas o poder emanado pelas leis eclesiásticas com sansões tenebrosas como o fogo do inferno, a salvação, paz, o jejum, a prece, a obediência e a penitência, para santo Agostinho os eventos humanos são poder de Deus. A verdade e motivação religiosa têm sido condicionadas por estes fatores que nos podem ou não causar estranheza de acordo com os grupos em que nos encontramos inseridos na sociedade contemporânea.
Isabel Gomes, ano 2020, Antropologia.
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