No método Europeu, a raso traço, os arcanos menores representam o comportamento humano perante uma determinada situação ou contexto dado pelo arcano maior e os elementos associados aos arcanos menores, simbolizam os degraus de evolução do ser humano. De acordo com estrutura de Tarot de Nei Naiff (aconselho a leitura da Trilogia de Tarot do referido autor, a quem quiser aprofundar o tema), temos no primeiro degrau de evolução do ser humano, o naipe de ouros, correspondente ao elemento terra que nos remete para a materialização, ter, sendo este o verbo a ele associado. No segundo degrau temos o naipe de espadas, correspondente ao elemento ar e que nos remete para o ser, como essência, como verbo. No terceiro degrau temos o naipe de copas que se relaciona com o elemento água, que simbolicamente nos remete para as questões sentimentais e no quarto degrau da evolução do ser humano encontramos o naipe de paus, associado ao elemento fogo e que se relaciona com todo o lado transcendental, o que nos remete para o ficar. Mas, como se relaciona este conhecimento com a psicologia e a teoria das necessidades humanas? Pergunta quem está desse lado. Salvo melhor opinião, a minha dedução é esta:
Primeiro vou falar um pouco sobre a Teoria das Necessidades Humanas, desenvolvida em 1943 pelo psicólogo Abraham Maslow. Segundo ele, o homem é motivado pelas suas necessidades que se manifestam em cinco graus de importância expressas numa pirâmide hierárquica chamada, Pirâmide de Maslow. Cada uma das distintas necessidades humanas influência na motivação e realização do ser humano que avança degrau a degrau até chegar ao topo onde se sentirá pleno e autorrealizado, infelizmente nem todos conseguiremos chegar a essa autorrealização, muito menos em todas as áreas que nos compõem.
As necessidades fisiológicas, inatas e comuns a todos os seres humanos, encontram na base da Pirâmide de Maslow, são o primeiro degrau. Falam das necessidades relacionadas com a sobrevivência, como alimentação, sono, abrigo, água, saúde, ar, excreção entre outros. Relacionando com o Tarot, podemos equipará-las ao elemento ouros, o primeiro degrau de evolução dos elementos dos arcanos menores, uma vez que para satisfazermos este tipo de necessidades entramos em modo de sobrevivência, somos o mais racional e prático possível. Sem emoções associadas, queremos sobreviver. O nosso instinto irá encarregar-se de nos alinhar nesse sentido, promovendo ajustes comportamentais que nos permitam uma racional e prática interação com a sociedade. Claro que neste estado de espírito não penso no amor, não penso em filosofia, estes são os próximos níveis da pirâmide.
Seguindo o raciocínio dos elementos do Tarot, depois de conseguir sobreviver, ter – ouros - terra, nasce a vontade de ser – espadas – ar. Quero fazer mais, conquistar o meu lugar na sociedade, um novo degrau. Fazendo o paralelismo entre o que acabei de falar e Maslow, na sua pirâmide, as necessidades de segurança encontram-se num segundo nível e só surgem após saciadas as necessidades de sobrevivência, falam da proteção contra a violência, abrigo, estabilidade, segurança, proteção na saúde. Em ambas as definições, Tarot e Maslow, neste nível, quero ter uma casa, um carro. Quero ter o meu trabalho, dinheiro, quero constituir a minha família. Adopto uma filosofia de vida e tomo consciência da minha individualidade com ser. Tenho assim uma postura mais vincada na minha interação com a sociedade. Eu quero ser. A maioria da minha atividade está no plano mental pela ambição por vezes sega e surda que me conduz.
As necessidades sociais, o terceiro degrau da Pirâmide de Maslow, refere-se às amizades, à socialização em geral, à aceitação em novos grupos, a sentir-se querido, a ter intimidade sexual, entre outros. Neste momento já tenho e já sou, então agora vou querer. Fazendo o paralelismo com o Tarot, estar – copas - água, terceiro degrau. Ambas as teorias remetem para o querer, estar numa relação, estar numa família, ser amado. As minhas emoções estão mais ativas e por elas poderão ser despoletadas fantasias reais ou irreais na condução das minhas necessidades. Quem nunca esteve apaixonado, sonhou com o príncipe encanto ou com a viagem de sonho, que levante a mão. Depois deste, um novo degrau ou necessidade, é parte intrínseca da natureza humana aspirar sempre mais.
Das necessidades de status e autoestima fazem parte a estima, a autoconfiança, reconhecimento, conquista, respeito dos outros, poder e prestígio. Remetendo para o quarto degrau dos elementos do Tarot, queremos agora ficar - elemento paus - fogo, de comum acordo com a sociedade. Ora, neste estado comportamental aquando da interação social, ganha-se sempre um pouco mais do que o esperado, quer pela nossa conduta, quer pelas decisões e tomadas de posição, ou até pela oportunidade que surgiu do acaso de nos encontrarmos à hora certa, no sítio certo, no momento certo. Nada nos abala e mesmo perante uma situação de conflito, conseguimos sempre uma forma harmoniosa de ganhar. Eu e o outro encontramo-nos em perfeita comunhão, sou confiante, maleável, assertiva, empata, trabalhadora, movo-me sobre boa conduta.
Chegamos assim ao topo da pirâmide, às necessidades de autorrealização, como a moralidade, criatividade, espontaneidade, autodesenvolvimento, prestígio, entre outras. Podemos dizer que nos encontramos no auge da nossa existência. Mas, para aqui chegar foi necessário percorrer quatro degraus que nos trouxeram através dos seus ensinamentos, resiliência e fé a este estado de evolução, à autorrealização, tal como, voltamos ao Tarot, desta vez aos arcanos numerados, o arcano 10, onde tudo se finda para reiniciar um novo caminho. Todo este movimento ascendente e sem percalços, nem sempre se verifica na prática. Quando as necessidades humanas não são supridas, surgem sentimentos de frustração, agressividade, nervosismo, insónia, desinteresse, impulsividade, passividade, baixa autoestima, pessimismo, resistência, insegurança entre outros. Temos arcanos que nos falam de todos estes tipos de comportamento certo?
Através desta relação, torna-se mais fácil compreender o significado dos distintos arcanos menores de acordo com os respectivos elementos, pela tónica comportamental com que cada um irá resolver uma mesma questão. Uma vez que, todos temos a noção de que uma resolução em mecanismo de sobrevivência torna-se distinto de uma resolução em estado de pertencimento. O que, nas minhas divagações, acentua algumas questões sobre as dores do ser humano. Se o amor corresponde a um terceiro degrau em ambas as teorias, então porque continuamos a achar que precisamos de um amor para conseguir sobreviver, conquistar, empoderar, mudar ou sentirmo-nos seguros? De minha parte, respondo com uma frase de Maslow, ‘’Podemos escolher recuar em direção à segurança ou avançar em direção ao crescimento. A opção pelo crescimento tem que ser feita repetidas vezes. E o medo tem que ser superado a cada momento.“
IG
Opmerkingen